O caixa esvaziado do estado e a falta de argumentos para justificar uma nova obra — após uma reforma que custou R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos para um “novo” estádio para a Copa do Mundo — devem fazer com que a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, no Maracanã, não tenha o gigantismo de edições anteriores. O plano, que frustra alguns cenógrafos envolvidos na operação, pretende resolver uma equação que tem, de um lado, o necessário glamour de um grande espetáculo televisivo, e, de outro, as dificuldades estruturais de fazer a festa em uma arena que não foi projetada para ser um estádio olímpico.
Para o espetáculo de abertura, que poderá ser assistido por mais de um bilhão de telespectadores, já se desejou o alargamento de quatro dos cinco túneis do estádio ou a construção de um novo, com cerca de 15 metros de largura. Porém, a 445 dias para abertura, organizadores e responsáveis técnicos admitem, reservadamente, que a festa deverá ocorrer sem nenhuma obra permanente. Em 8 de abril de 2013, quando o Maracanã estava em obras para a Copa das Confederações, um documento da Rio-2016 para o então secretário da Casa Civil, Regis Fichtner, vazou. Neste ofício, de 7 de novembro de 2012, o comitê solicitava a ampliação de quatro túneis em um metro de largura e em quase 3 metros de altura.
Complexo do Maracanã |
Os rumores de uma obra aumentaram, apesar da negativa das partes.
Para adequar o Maracanã, serão feitas intervenções temporárias caras e de grande porte, obrigatórias para garantir ao evento um padrão olímpico. Mas, hoje, a promessa é que tais estruturas, especialmente para dar suporte à iluminação da festa, sejam pagas com dinheiro privado. Segundo fontes presentes a uma reunião entre o governo e a concessionária que administra o estádio, o governador Luiz Fernando Pezão disse que “não poria mais nenhum real no Maracanã”.
— O custo de uma nova reforma para apenas quatro espetáculos (abertura e enceramento olímpico e paralímpico) não se justificaria. O Brasil não é um emirado árabe. Este é um princípio que será usado. O custo da abertura do Rio, até onde eu sei, será umas 10 vezes menor do que o custo de Pequim e um terço do de Londres (que foi de cerca de R$ 127 milhões) — disse o cineasta Fernando Meirelles, um dos três diretores artísticos da cerimônia. — Seria uma delícia torrar dinheiro em milhares de truques tecnológicos, mas não faria sentido. O mundo não está mais numa época onde a extravagância seja desejável e faça sentido. Creio que para o COI esta mudança de paradigmas de custo seja uma boa notícia. Estas cerimônias estão ficando tão astronomicamente caras que já deve estar difícil encontrar países que queiram e consigam sediar os Jogos .
A disputa pela obra no Maracanã tem como pano de fundo o acesso ao gramado, seja para o desfile de quase 12 mil atletas ou para o fluxo adequado de alegorias. O portão principal, usado para a entrada de jogadores de futebol, é estreito. É possível que a entrada dos atletas seja feita por mais de um túnel, como alternativa para driblar a ausência de uma pista de atletismo, permitindo a vazão dos milhares de atletas que participarão do espetáculo. Já o uso de um palco suspenso, como recurso de deslocamento de materiais e pessoas, poderia inviabilizar o uso da grama para as partidas de futebol dos Jogos.
Matéria: Jornal O Globo
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